sábado, 8 de março de 2008
Hoje, caro leitor, convido-lhe para discutir um dos temas mais polêmicos da atualidade no Brasil: o aborto. Não por acaso, a Igreja Católica no País trouxe como foco de sua principal campanha nacional a temática da ‘vida’ e seus direitos. “Escolhe, pois, a vida” é o tema da Campanha da Fraternidade e a posição da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) é em defesa irrestrita deste dom desde sua concepção até seu declínio natural.
O Congresso Nacional começou nos últimos anos a discussão do Projeto de Lei 1135/91, que prevê a total legalização do aborto no País, com o agravante de que até a 12ª semana de gestação seja assegurada a cobertura da prática pelo SUS e pelos Planos de Saúde do Brasil. Afinal, o Brasil deve ou não legalizar a prática do aborto e patrociná-la com recursos do SUS?
Na abertura da CF no Regional Nordeste II, ocorrida em João Pessoa, eu conversei com diversos bispos e a opinião é uma só: “a vida é dom de Deus e ninguém pode tirá-la como se fosse propriedade sua, ainda que esse ser tenha acabado de ser fecundado e esteja sob a dependência de uma pessoa”, explicou Dom Jaime Vieira Rocha, ex-bispo de Caicó.
Um dos pontos fortes de defesa de algumas autoridades públicas (diga-se de passagem poucas) é a de que o aborto praticado na clandestinidade provocaria a morte de muitas mulheres, visto que são feitos em condições precárias. Entretanto, os dados do próprio SUS desmentem o argumento. Segundo estimativas, de 1996 a 2002 o maior índice de mortes ocorreu em 1997, quando 163 mulheres vieram a óbito. Ora, em um País cuja população feminina ultrapassa a casa dos 89 milhões, 163 mortes não representa um dado significativo para afirmar que o aborto é uma questão de saúde pública.
Será que mais pessoas não morrem nas filas de hospitais por falta de atendimento ou de medicamentos? Será que legalizar o aborto não aumentaria ainda mais a incidência de mulheres grávidas e consequentemente de mortes inesperadas? Ou confiamos seguramente que o SUS dará assistência suficiente para a prática do aborto?
Questionamentos a parte, o blog BOCAS MIÚDAS quer ouvir a sua opinião. Abaixo estão expostos os pensamentos de autoridades políticas e religiosas sobre o assunto. Mais em baixo pode está a sua, comente e interaja conosco.
“Me considero uma feminista de carteirinha, mas sou contra”. A morte de mulheres em razão de problemas relacionados à gravidez, ao parto e ao puerpério não está entre as dez principais causas de morte feminina. De acordo com dados do Ministério da Saúde, das quase 370 mil mortes de brasileiras em 2004, 0,5% foram decorrentes dessas complicações. E, como sou da área de saúde, não posso dizer que a vida só começa com a formação do cérebro ou de outras partes do corpo. Isso, biologicamente, é inaceitável.”
Heloísa Helena, presidente nacional do PSOL
“Está provado cientificamente que a vida humana surge a partir de sua concepção e por isso precisa ser preservada desde esse momento até seu declínio natural”.
Dom Jaime Vieira Rocha, bispo de Campina Grande-PB
“O aborto é um mal. Ponto. Para os religiosos, um pecado. Para uma jovem, uma tragédia. Criminalizar o drama de uma jovem pobre que engravidou de forma imprudente, incauta, ou porque lhe faltaram contraceptivos, só produzirá mais aborto, mais violência. O aborto deve ser uma decisão da mulher. O Estado não tem nada a ver com essa decisão”
Ciro Gomes, deputado federal (PSB)
“A Igreja diz ‘não’ ao aborto, porque diz ‘sim’ à vida. É uma conseqüência do que prega Jesus Cristo. Evangélicos, espíritas e todos os que amam a vida precisam dizer não ao aborto, à eutanásia e a todas as formas de desvalorização desse dom maior concedido por Deus”
Dom Antônio Muniz, Presidente do Regional Nordeste II
Klebson Wanderley - blogueiro do sábado
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8 Comments:
Klebson, será que de fato a igreja está do lado da vida? A história e as trajédias bélicas atuais não demonstram o contrário? Não é com as bençãos e os esforços da igreja que jovens se encontram nos campos de batalha? O que acontece lá? Respeito à vida? Não sou favorável à banalização do aborto, mas também não acho que seja um assunto da igreja. A verdade é uma só. Se pela fé ela não consegue fazer com que seus fiéis deixem de praticar o aborto, pretendem fazer obrigar por lei a fim de não percebermos a fraqueza dos seus ensinamentos ou doutrina. Fica difícil a sociedade tomar posição quando os argumentos daqueles que são contra e dos que são a favor não encontram respaldo no "mundo real".
Sou contra o aborto, mas acho que é um assunto que deve ser amplamente discutido na sociedade. A propósito, Klebson, quero parabenizar pelo blog. Coloquei o link no meu blog. Vão em frente! Vocês são talentosos e Caicó precisa de gente como vocês. Abraço grande!
O aborto é um crime, um atentado contra a vida humana. Não é questão de saúde pública, mas um homicídio. A Igreja católica, ao levantar-se contra o aborto e defender a vida é profética e pretende levar as pessoas a refletirem sobre suas escolhas. Se todos podem falar, porque a Igreja não pode? Esse primeiro comentário é totalmente descabido! Meu caro Polion, não seja anacrônico! É bem verdade que os membros da Igreja cometeram falhas no decorrer dos séculos, mas isso não desautoriza os seguidores de Jesus dos dias de hoje a defenderem a vida. Quer dizer que pq os cristãos do passado erraram em alguns pontos nós de hoje devemos continuar repetindo os erros? É nosso papel iluminar as consciências, inclusive a dos políticos e magistrados, levando-os a considerar a importância da vida humana, desde o seu início até o seu declínio natural. A Igreja é a maior defensora dos direitos humanos. Se a Igreja católica e os cristãos em geral parassem os seus feitos humanitários, suas obras sociais, o mundo entraria em colapso. Aí eu queria ver o que os "comunistas de plantão", os "abortistas" e os ateus iriam fazer para melhorar o mundo. Sabem quem ganha com o aborto? Os mercados financeiros que o custeam e estão por trás. Pensemos nisso!
Concordo com Polion,
Como eu disse no outro post, a Igreja "se mete" muito nos assuntos seculares.
Cada ser humano tem uma crença, uma opniao, uma filosofia.
Só acho que a Igreja não pode impor a suas ideologias a todos. Cada um haja da forma que pense ser correto.
Se o católico é contra o aborto, não aborte. Mas também nao tome o direito de um ateu o fazê-lo.
Estou dizendo isto, mas sou católico e nao defendo a legalizaçao do aborto. Defendo sua descriminalização, ou seja, que abortar deixe de ser crime.
Anônimo, não estou preocupado com as malvadezas da igreja, nem com seus programas sociais propagandiados. Atentai, bem: não deves fazer o bem com o intuito de encobrir o mal. Gostaria apenas de afirmar: a igreja não convence os seus, pois eles não acreditam no que ela prega, e por isso abortam, imagine quem não comunga com sua fé, por qual motivo iria lhe acreditar?
Tudo que eu pensava em falar como comentário já foi explanado pelo nosso colega Polion e corroborado pelo também colega Kelsen.
Então creio que o meu comentário nada mais será que um certo "enchimento". Mas asseguro que não abro mão em ser favorável ao aborto. Porém, lateralmente o poder público, deveria conscientizar ainda mais a população carente com programas contraceptivos.
Infelizmente, a Igreja, não só a católica, como qquer uma, segindo Dogmas que atualmente estão contextualmente ultrapassados, que em tese seria o melhor meio para difundir esse tipo de programa, é aquele que posso chamar de "seu pior inimigo".
No mais, hasta!
E qual é o mal que estamos encobrindo? Vcs falam como se a Igreja fosse algo desencarnado do mundo, uma realidade etérea, e nao é. O Kelsen está totalmente equivocado quando diz que a Igreja não deve se "meter" nos assuntos do Estado, porque a Igreja, meus caros, é formada por pessoas, cidadãos, que pagam impostos, como eu e vocês. Nós temos a obrigação de colocar a coisa em debate, sim, iluminar as grandes questões com ética, sim. É bem verdade que um grande número de fiéis não acredita no que a Igreja diz, mas isso não quer dizer que a Igreja deva levantar a bandeira das "maiorias". Nós acreditamos numa verdade objetiva e é esta verdade que apresentamos, como PROPOSTA. Ninguém obriga ninguém a crer em nada. Se alguém acha que o aborto é uma maravilha, tem esse direito. E pode até ser a maioria. Mas a Igreja não pode se calar diante dessa realidade, simplesmente porque ela deve ser fiel a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Igrejas de conveniência tem aos milhares por aí. Mas não é o caso da Igreja Católica.
Constituição Federal
Art. 5º, IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.
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