O RUÍDO QUE ENTORPECE OS SENTIDOS

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

É triste constatar a péssima qualidade da música que “ouvimos” atualmente. Isso não vem de hoje, claro. É um processo que vem de algum tempo, mas que parece piorar com o passar dos anos.

Nessa decadência, facilmente constatável na futilidade das letras das canções de sucesso, é possível observar como os valores estão sendo deixados de lado em prol de um mercantilismo fácil e descartável.

Principalmente no “forró” que se escuta hoje, a mulher perdeu o seu valor. É insultada e tratada como produto de “mei de feira”. Seus atributos só são mensuráveis no âmbito “sexual”, com letras torpes e depreciativas. É tanto que alguns já chamam o subgênero de “forró da rapariga”.

Convenhamos, se é que “aquilo” pode se chamar de forró, também não vamos destroçar o gênero cantado de forma tão poética por Gonzagão e Flávio José. Quem conhece e gosta do bom forró simplesmente ignora tais manifestações aculturais.

Até pensávamos que isso seria uma exclusividade do axé music, hoje gênero restrito às micaretas e ao período de carnaval, que chegava a personificar o “derriére” feminino: “lá vem a bunda passeando pela feira, vai conduzindo Raimunda orgulhosa”, quer dizer, a bunda conduz a mulher? Ou do inexplicável “funk Carioca” que consegue criar hits insuportáveis apenas coaxando como um sapo: “créeeeu! créeeeu!”.

O sapinho olha, desconfiado,
coaxa "créeeeeu!!!", e todo mundo canta...

Conversa de pseudo-intelectual, você pode indagar. No entanto, vejamos o efeito negativo que essas “músicas” podem provocar na nossa juventude. Até por efeito dessa era sem valores que vivemos, nossas crianças assumem uma sexualidade precoce, o que se torna um grave problema social. Além do mais, muitas acham divertido “beber, cair e levantar”, como pude verificar in loco garotos cantando esse tipo de coisa, achando graça, criando esse sentimento de que se “embriagar é legal”. Deveria ser obrigatório colocar uma advertência do Ministério da Saúde nesse tipo de produto: beber é prejudicial à saúde.

“Mas isso só é culpa da música ruim?”, você pergunta. Claro que não. Trata-se de uma desvalorização generalizada da qual a música também faz parte. Tem público? Tem. O povo gosta? Aí vem a pergunta: será que gosta mesmo, ou está condicionado a gostar daquilo? Afinal, quando os meios de comunicação não divulgam as opções, as pessoas engolem qualquer coisa, até mesmo pelo efeito modismo.

Essa reflexão, entendam assim, apenas serve de alerta, um pensamento para esse momento negativo onde não há mais espaço para canções com letra e sentido. No geral, esses “letristas” transmitem mensagens erradas (diretas e subliminares) que, em nada, contribuem para o processo educativo, pedagógico e de formação humana. Só servindo mesmo para apaziguar esse lado irracional da nossa bestialidade.

RV

13 Comments:

Jeffmanji said...

Caro Raildon,

Muito boa a sua postagem. Boa mesmo. Você conseguiu condear o sentimento de repúdia que muita gente sente ao ouvir esses "lixos".

Cara, o Créu é um bom exemplo de como fiquei constrangido neste carnaval. Uma banda daqui (que não vou dizer que foram Os Bambas, porque adoro eles), tocou esse lixo por 50 minutos! E durante 50 minutos as menininhas bonitinhas do papai tavam bebendo, dançando e se despindo para quem quisesse ver.

Mas não se preocupe. Daqui a alguns anos, o créu será texto de interpretação de Vestibular.

Anônimo said...

Eita... os ruidos realmente estão ensurdecedores... o pior que num é só na música não... A futilidade está sendo cuspida por quem deveria estar lapidando oratória... Não é só no palco do baile funk, nem com os Bambas na Ilha... até na tribuna da Câmara a gente esculta vereador com um jeito diferente de representar o povo... com um jeito Creu! Será que o povo é quem está destroçado com representantes assim?! Parabéns pelo blog!

Anônimo said...

kkkkkkkk
Essa foi boa! Melhor ainda foi a ilustração. Por coincidência, estava visitando outro blog e vi a noticia: http://www.robsonpiresxerife.com/blog/?p=4484
Achei parecidas as fotos. kkkk
Seria outro jeito creu de se expressar?

Anônimo said...

Parabéns pelo post, amigo RV.

De fato a população esta ouvindo muita porcaria. É inacreditável músicas como "eguinha pocotó" ter feito o sucesso que fez. E isso deveria, ao menos, preocupar camadas da sociedade. Ao contrário, vemos elas se "unirem" para cantar também.

"O que há de errado" é uma pergunta complexa demais para ser respondida (ou ao menos tentada) rapidamente...Quem sabe educação, cultura...ajudariam estas músicas a terem menos sucesso...

Anônimo said...

Historicamente falando, sempre existiu o plasto cultural, as vezes é chamado de "popular", com forte conotação sexual e chula. Acontece, que este plasto foi contido pelos aliceres da religião cátolica e moralidade pública, mas hoje em dia com transformação da sociedade brasileira e ascensão das classes definidadas como "C" e "D" o esse plasto cultural comerçou ganhar certa vantagem predominância em detrimento dos demais.

Anônimo said...

Eh isso ai, RV. Concordo plenamente com suas colocacoes e sei tambem que isso nao eh conversa de pseudo-intelectual nao. Infelizmente hoje somos obrigados a escutar todo tipo de porcaria, com o pretexto de que esses são os hits do momento e qualquer pessoa que esteja por fora dessas 'atualizacoes' ja eh logo taxada de 'quadrada' ou cheia de frescura.

Qualquer pessoa com o minimo de bom senso teria, como vc, a sensibilidade de saber discernir o que eh bom e construtivo para nossas vidas ou aquilo que estah na moda só como meio criado pela industria cultural para faturar mais cifras em cima daqueles que ainda não quiseram ou não puderam desenvolver sua consciencia critica.

(estou escrevendo sem acentos porque senao sai tudo com os caracteres esquisitos..rsrsrs)

Parabens pelo blog..estou adorando as postagens!!

Anônimo said...

O pior dessas musicas é a coreografia...cada uma mais pornográfica q a outra!

RNL said...

Concordo em gênero, número e grau... Esse tipo de manifestação é uma mentira artística. Um verdadeiro kitsch com características externas de arte, que não passa de uma falsificação da arte de um inimigo da arte que se camufla e se disfarça de arte para pode infiltra-se nela e destruí-la, como vem ocorrendo!!!
Raildon, parabéns pelo texto. Do amigo Gustavo Nunes de aquino.

Anônimo said...

Caicó precisava de um Blog feito por gente inteligente e bem informada, com pensamento crítico para que possamos dar inicio a um processo de formação de uma nova mentalidade da sociedade em que vivemos. Precisamos sair da mediocridade real, sair dos parâmetros de valores carcomidos e imprestáveis. Para tanto, precisamos de novas idéias, de vocês jovens, idealistas, desprendidos, abnegados, que não meçam a vontade de ousar, apostando no novo, que nasce da proposta do ideal e da coragem de fazer a mudança. Continuem firmes! Sem medo de escrever, de pensar e ousar!
Salomão Gurgel - Médico, Prefeito de Janduis-PT

Anônimo said...

Vc tem razão RV, o "créeeu" tem se repetido em todo lugar e em todas as atividades humanas... na música vc já demontrou que existe; na política, "créeeeu"; na comunicação o "créeeu" é quase uma regra... eis que devemos "filtrar" ou "coar" para nós mesmos isso tudo.

Anônimo said...

Eh, Raildon, parece que os jovens hoje nas festas procuram nao músicas com conteúdo, mas aquelas que propriciam uma agitação ou rebolado maior (em outras palavras, as musicas mais chulas). Mais ainda porque hoje parece que o instinto sexual está mais liberado...

Mas ainda existem muitos jovens que na tranquilidade de casa preferem as letras com conteúdo, as músicas de futuro, que perduram no tempo.

Essas novas... felizmente serão superadas pelo tempo, eskecidas em breve.

Anônimo said...

Até quando a população de Caicó vai se deixar ser representada( ou seria subordinada?)por uma ala de politicos que não faz justiça ao voto de confiança do povo.Pode até soar cliche, mas é um dos cliches mais verdadeiros.O que temos na politica de nossa cidade é uma especie de "capitania de cargos politicos"( alusão as capitanias hereditarias), tal cargo de vereador já é de "Doutor Tal",o outro é de "Num Sei Quem da Xibata". Essas pessoas prenderam o povo de Caicó com suas correias mesquinhas,subordinando-os com prestações de favores vis,alguns desses ultimos com o intuito de simplesmente mostrar ao povo o quanto nós ainda prescimamos de suas "generosidades"...essas podem ser uma chapa de dente,uma consulta de vista,um emprego temporario,uma sexta basica...

O pior é que tudo isso é com a benção de Santana...cuidado Deus tá vendo.

Anônimo said...

Caro RV...

Comento com atraso, pois ontem meu post não foi enviado, mas como era de se esperar, e sendo escrito por vc, uma discussão sensata e inquestionável...

Vivemos uma verdadeira degradação da música brasileira, onde só vale o ritmo e pouco importa o conteúdo. A música serve apenas ao corpo e não mais a crítica social.

Feliz comentário e como sou forrozeiro de carteira, viva Flávio José!